sábado, abril 21, 2012

Para Onde Está Indo Esta Moto, Meu Deus?!!!!!!


Em 1975, minha irmã - dez anos mais velha que eu - apareceu lá em casa com uma foto em que ela estava na garupa da moto daquele que seria seu futuro marido. Os dois se preparavam para "mergulhar" na descida para a Prainha, vindos de Grumari. Como nas fotos acima. E o título deste post retrata o meu pensamento ao ver aquela foto.

Muita coisa mudou na minha vida e na da minha irmã de 1975 para cá. Mas a Prainha não mudou absolutamente nada.
Parece incrível, mas a Prainha está situada na zona oeste da segunda maior cidade do país e uma das maiores da América Latina.Vou repetir: a Prainha está dentro do perímetro urbano do Rio de Janeiro.
No inicio dos anos 70, havia uma lenda de que no local havia existido um leprosário, por isso, a praia devia ser evitada, por estar contaminada. Quase ninguém ia mesmo pra aquelas bandas devido ao acesso muito difícil. Então, Prainha e Grumari eram praia praticamente dominadas pelos surfistas. Aliás, a praia é considerada uma das melhores para a prática do esporte no país.
Ainda nos anos 70, estrelas da musica, artistas globais e celebridades começaram a frequentar as areias da praia, pequena em extensão, mas enorme em termos de beleza. Conta-se que muitas desses famosos chegaram a fazer nudismo. Caetano Veloso era um dos mais assíduos e há uma lenda de que ele compôs Menino do Rio ali.

O acesso complicado, a distância e a pouca oferta de estacionamento, não encouraja muitos cariocas a irem até lá. Além do mais, os ônibus são proibidos e nos dias de calor, o número de carros é controlado. Por outro lado, a região e preservada pelo governo federal, o que a torna uma mistura de mata, areia e mar.

O Parque Natural da Prainha, criado anos atrás, tem ajudado a preservar esse recanto belíssimo. As construtoras sempre estiveram de olho no local, houve até a ameaça de se construir um resort. Mas felizmente foi apenas ameaça e hoje ninguem mora na Prainha. A não ser...

...quem sempre morou e já adquiriu o direito de morar em suas matas.

Paraíso dos naturebas e ecologistas, o local é tão politicamente correto, que o traçado da única rua da área foi modificado para se proteger uma pedra no caminho. Drumond deve ter se banhado por ali.

Logo depois da Prainha, na direção ao Centro, o quadro muda completamente. E o bairro do Recreio dos Bandeirantes nos lembra a necessidade de se preservar a Prainha.
O Recreio tem o privilégio de ter três praias: Macumba, Pontal e Recreio. Ali, a expansão imobiliária esta sempre a espreita. Mas ainda há muita beleza para ser vista.

O Morro do Pontal e ligado ao continente apenas por uma fina faixa de areia que desaparece nas grandes marés.

Mas quando a maré está baixa, o povo faz UNI DUNI TÊ para escolher em qual lado do mar irá cair.

As três praias do Recreio também são preferidas pelos surfistas e nos finais de semana, as águas ficam coalhadas deles.
Assim como os surfistas, a especulação imobiliária também se faz cada vez mais presente. Infelizmente. O resultado disso são trânsito difícil, sujeira, barulho, multidões e desordem.
Por isso, muitos preferem ir mais um pouco além e "mergulhar" na Prainha.
E lá vão eles...


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sexta-feira, abril 06, 2012

Por Que Eu Gosto Tanto de Fotografar?

Muita gente me pergunta por que gosto tanto de fotografar, se também gosto de escrever?
Seria por que - como diz o velho ditado -, uma imagem pode substituir muitas palavras?
Dê uma olhada na foto acima, tirada em Chinatown, uma das partes mais degradadas de Nova Iorque.
Seriam apenas dois humildes vasos de plantas na sacada de um prédio deteriorado?
Para a maioria das pessoas, sim. Mas não para quem gosta de fotografia.
Em Chinatown, os prédios são muito antigos e a maioria está em péssimo estado de conservação.
Este aí, próximo a Manhattan Bridge, é um deles. Parece que o dinheiro acabou e eles não puderam terminar a pintura (rs).
Para muita gente, não é fácil viver em Nova Iorque. Os aluguéis são um dos mais caros do mundo. E a qualidade dos imóveis é, muitas vezes, abaixo do valor cobrado.
Chinatown fica na parte sudeste da Ilha de Manhattan, uma área onde a valorização que a cidade sofreu a partir dos anos 90 parece não ter chegado.
Esqueça o glamour que você vê na Nova Iorque dos filmes e seriados.
Nesta parte da cidade a degradação é muito grande.

Chinatown fica colada à Alphabet City, um sinistro bloco de prédios dos quais os turistas devem ficar longe, principalmente à noite, quando a prostituição e o tráfico de drogas se faz abertamente.
A maioria dos turistas chega a Chinatown na volta do Brooklyn, pela ponte...

...e são despejados nas ruas sempre cheias. Ruas feias, sujas e barulhentas, repletas de lojinhas de quinquilharias e comidinhas orientais de qualidade duvidosa.
Chinatown é loteada pela mafia chinesa e por gangues orientais, que cobram pedágio dos pequenos comerciantes. Muitos orientais são levados a Nova Iorque com promessas de uma vida de prosperidade, conforto e sucesso na América. Mas o que encontram é subempregos, regime quase que escravo, marginalidade, opressão e uma vida bem pior do que a que deixaram para trás. A maioria mora em apartamentos minúsculos e em estado deplorável. Vivem com medo da imigração e da máfia oriental que os ameaça denunciá-los ou coisa pior.
Mas a vida tem que continuar.
De alguma forma, a vida tem que continuar.
E a gente precisa seguir em frente...
...da melhor forma possível, utilizando os recursos que a gente tem.
Diante disso tudo que foi relatado, você ainda vê os humildes vasinhos apenas como eles são?
Pois eles representam a tentativa quase que desesperada de se conseguir alguma qualidade de vida, num ambiente hostil.
Os vasinhos estão gritando: NÃO TEMOS QUASE NADA, MAS AQUI AINDA HÁ ALGUMA DIGNIDADE!!!!!
E eu acho isso lindo!
E este é o motivo pelo qual gosto de fotografar: conseguir ver a beleza no feio, no hostil, no degradante, na decadência, no trágico.
É muito fácil ver o belo na beleza. E eu sou imensamente grato à fotografia por ter desenvolvido em mim esse olhar capaz de ver tanta beleza nesse mundo corrupto, egoísta, individualista, mesquinho e bruto que nos cerca.
Desculpem-me o ar meio auto-ajuda deste post. Talvez seja a época, sei lá!
E aproveito para desejar a todos uma Páscoa muito feliz! 

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