sábado, julho 28, 2012

O dia em que amei Carolina

Peguei um voo direto até São Luis. Mas foi por motivo particular. Não é a maneira mais prática para se chegar na Chapada.
Deixe-me explicar, o Parque Nacional da Chapada das Mesas é uma área de 160.046 hectares espremidos entre o Maranhão e Tocantins. Os municípios mais próximos são Carolina, Estreito, Riachão e Imperatriz. Este último é o único que dispõe de aeroporto com voos comerciais.
Mas é o que fica mais distante das principais atrações do Parque.
Na verdade, Carolina e Riachão são as cidades mais próximas do que deve ser visto. Dos dois, Carolina é a que tem melhor estrutura turística.
Resumindo: se você mora em outro estado e deseje ir chegar de avião, precisará ir até Imperatriz e depois, se deslocar para Carolina, há mais de duzentos quilômetros de distância.
Esta estratégia talvez tenha afastado muitos turistas da Chapada das Mesas, já que as suas concorrentes tem acesso mais fácil e mais estrutura.
Então, recapitulando: o mais prático seria pegar um voo até Imperatriz. Gol e TAM dispõem de voos para Imperatriz. Mas não são diretos, pois, na verdade, esses voos saem de Brasília.
De Imperatriz para Carolina há ônibus (Viações Transbrasiliana, Viação Açailândia ou LopesTur). Há também serviços de vans que ligam as duas cidades, mas não fica muito barato. Como eu já havia combinado um preço para que o pessoal da pousada onde fiquei em Carolina me pegasse em Imperatriz, não sei muito bem como funciona.
Também dá para ir de ônibus e até trem de São Luis para Carolina. Mas demora uma eternidade e acho que não vale a pena.
Para os corajosos que quiserem ir de ônibus do Rio ou São Paulo para Carolina, a Itapemirim tem ônibus direto para Estreito, cidade bem próxima.
Fiquei hospedado na Pousada dos Candeeiros e pedi para que eles me pegassem em Imperatriz.
Não sai barato, mas eu não estava a fim de ficar a mercê de ônibus. O trajeto entre as duas cidades é um pouco longo e a estrada tem altos e baixos, em termos de conservação.
Cheguei em Carolina por antes do anoitecer. Mas antes, paramos em algum ponto da rodovia para visitar a Pedra Furada para tirar fotos. E o que vi foi uma sequência muito bela de montanhas e formações rochosas de cor meio avermelhada, espalhadas em uma região muito verde, onde o Rio Tocantins serpenteia, por entre uma vegetação que mistura caatinga e cerrado. Nunca havia visto tal paisagem e achei demais.
Esta foi a minha primeira impressão que tive da região antes de chegar a Carolina.
A doce melancolia é o charme de Carolina.
Carolina também acabou sendo uma agradável surpresa.
Pessoas urbanas como eu costumam ter no imaginário aquela noção de uma pacata cidade do interior, onde todo mundo se conhece, as pessoas são carinhosas, recebem bem os forasteiros e a vida corre calma. Carolina representa tudo isso. É uma cidade deliciosa. Os que vem de metrópole, inicialmente vão se chocar com o rítimo lento do lugar. Mas quando a carga de estresse trazido começar a evaporar, a gente começa a se encantar com aquela "vidinha".
Quando decidi conhecer a Chapada, pensei que a cidade seria apenas meu ponto de apoio. Mas agora sei que Carolina também faz parte da aventura e passar alguns dias por lá foi uma das melhores coisas da viagem.
Pena que a cidade guarda uma história triste.

Prédio junto ao porto de Carolina. Resquícios de sua fase áurea.
Há cidades que decaíram devido a tragédias, desgraças climáticas ou problemas econômicos. Carolina decaiu por causa de uma canetada.
Quando, no início da década de 1960, o presidente Juscelino kubitschek assinou o decreto autorizando a criação da rodovia Belém - Brasília, passando a 100 km de Carolina, acabou determinando sua sentença de morte. Até então, o principal meio de transporte da região era o fluvial e por ficar à beira do Rio Tocantins, a cidade era o principal polo econômico-financeiro do sul maranhense, influenciando até mesmo regiões do Pará, Piauí e o norte de Goiás (hoje, Tocantins). A cidade contava até com um movimentado aeroporto, que hoje está às moscas.
Com a canetada de JK, o crescimento econômico se afastou para Imperatriz. Houve um esvaziamento na população da cidade, que hoje está em 23 mil habitantes e Carolina voltou a ser apenas mais uma cidade no interior de um dos estados mais pobres do Brasil.





Balsa atravessa o Rio Tocantins de Carolina (MA) para Filadelfia (TO).

Acho que demorou para perceber que a riqueza da cidade estava em seu potencial hidrográfico, que tornam as terras férteis. E a criação do Parque Nacional da Chapada das Mesas fez a ficha da população cair para as possibilidades turísticas da região.
Meninos curtem um tchibum nas águas limpas do Tocantins,ao entardecer.
 
Para a sorte de Carolina, as águas do Tocantins ainda são despoluídas, assim como todos os seus afluentes na região.Infelizmente, a cidade sofreu recentemente outro golpe. A construção de uma usina hildrelétrica anos atrás, aumentou abruptamente o nível do rio e todas as praias fluviais da região desapareceram, inclusive pequenas ilhas. A relação quase afetiva que a população tinha com o Tocantins foi alterado de uma hora para outra e com a pesca prejudicada, muitas famílias tiveram redução em sua renda.

Pelo menos, restou a belezado por do sol, um dos mais lindos que já assisti.
Carolina é uma cidade sem atrações turísticas e isso é ótimo!
Deixe-me explicar: essa ausência de ter o que visitar na cidade faz com que o visitante possa desfrutar da arte de apenas flanar pelas ruas, como se fosse um local. Sem pressa e sem estresse.
Retificando: Carolina tem um único ponto turístico. A sua própria vida rotineira. Por isso, reserve pelo menos a metade de um dia (se possível, à tarde) para se jogar no ócio interiorano. Mas não se esqueça de munir-se de uma garrafa d´água, pois faz um calor enorme na região e, dependendo da época do ano, a umidade está quase sempre baixa.
Eu fiz isso no meu penúltimo dia na cidade, quando já estava um bagaço de cansado, depois de dias inteiros passados fora nos passeios. Então, aquele foi o dia em que conheci e amei Carolina.
Caminhe sem pressa, entre nas lojinhas (compras? só lembrancinhas), sente-se no banco da praça Joaquim Leal. No local, há lugares para bebericar e fazer uma boquinha (mas não dá para almoçar ou jantar). Sente por ali e apenas assista a vida correr. Quem sabe, se você não aproveita para...

Guaraná Jesus e sua co-irmã.
...conhecer essa verdadeira instituição maranhense. Alguns anos atrás a Coca-cola comprou o Jesus, mas manteve o compromisso de comercializá-lo apenas no estado. Por isso, não perca a chance de saborear esse soft drink róseo e de gosto indefinido (algo como um xarope gasoso). Recentemente, a Coca lançou a versão Jesus Zero, que enfureceu os católicos maranhenses. E ela foi obrigada a adicionar a palavra "caloria". Não percebi tanta diferença assim na versão Zero. Seja como for, não deixe de provar Jesus. No primeiro gole, você vai pensar em jogar o resto da lata fora. Mas, uma força tão inexplicável quanto a fé, irá fazer você querer mais e mais.

Não deixe de entrar na Igreja de São Pedro de Alcântara, na avenida Getúlio Vargas. E uma dica: atravesse a rua, em seu lado esquerdo e vá até à administração da igreja, peça para ir até a torre dos sinos. Alguém irá acompanhar você para abrir a porta de acesso. Lá de cima tem-se uma bela vista da cidade e seus arredores.
Avistar o por de sol lá de cima deve ser inesquecível. Mas se não der, vá até o porto mesmo, que também é muito bonito. Aliás, lindo mesmo. E aquela região tem uma luminosidade diferente, desde o primeiro momento em que cheguei já percebi que era um ótimo lugar para se bater fotos.
E aí bate a fominha e a pergunta: onde acabar com ela?
Provavelmente, tirando o café da manhã,  você só vai comer em Carolina à noite, porque o resto do dia deve ser gasto nos passeios. E o Espaço Goumet (Praça José Alcides De Carvalho) é o local mais bacana que encontrei. Preços bons, atendimento atencioso. Só experimentei pizzas e achei muito gostosas. Mas o local tem outras op~ções. Recomendo o sorvete de manjericão. Tem mesas na parte externa que são uma delícia para bater papo e curtir mais a cidade. Aceita-se cartões.
Na pracinha em frente ao Gourmet há bares com comidinhas. A Tio Pepe Pizzaria me pareceu a mais convidativa. Cheguei a comer uma pizza neles. Mas achei a do Gormet mais saborosa.
Quando ir a Carolina? Olha, pelo que descobri a melhor época vai de junho a setembro. Depois disso, as chuvas retornam e a Chapada perde o seu brilho. Mas considere que julho é mês de férias. Então, as tarifas sobem e pode haver certa muvuca. Como as praias do Tocantins foram exterminadas, o povo só tem agora os rios, as cachoeiras e os poços para se refrescar do forte calor da região.
Procure fazer seus passeios durante a semana. Acho que nos finais de semana, alguns lugares podem estar cheios.
Conforme eu esperava, peguei dias muito bonitos, nenhuma chuva e temperaturas suportáveis.
Li não sei aonde que junho e julho as temperaturas são mais amenas. E parece que é verdade, pois o calor não estava nada insuportável. À noite, refresca bem e pela manhã cedo rola até um friozinho.
Quer saber? Acho mesmo que junho é o mês ideal. Tarifas mais baixas, sem muvuca e pouca chance de chuva. Se você quiser combinar com São Luis, melhor ainda, pois a cidade estará fervendo com os festejos juninos. E nos Lençóis, as lagoas já devem estar cheias.
O que levar? Roupas leves e simples - a cidade não pede muita grife e ostentação. Chapéus (obrigatórios
Em resumo, conhecer Carolina não é turismo e, sim, uma experiência. Embora seu objetivo maior seja a Chapada, não deixe essa cidadezinha muito simpática lhe passar despercebida.
Para saber mais sobre a cidade, informações úteis e curiosidades, Merguhe aqui. E aqui, mais fotos.
E este mapinha pode lhe ser útil.
Ou volte pro início.

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5 Comments:

Blogger Marcelo Gibson said...

Julio Correa, muito bom o seu post sobre Carolina. Estou iniciando pesquisas sobre a região, vou passar 15 dias andando por lá. Sua dicas já estão guardadas.
Grande abraço!

sexta-feira, fevereiro 22, 2013 11:04:00 AM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Obrigado, Marcelo.
Se quiser mais informações, entre em contato.
abraço

sábado, fevereiro 23, 2013 9:43:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Júlio Cesar,

Já tinha vontade de conhecer essa maravilha de lugar, depois que li teus comentários, me encantei ainda mais. Parabéns pelo post, "nos faz viajar" sem sair do lugar. Só uma coisa me deixou triste nesta leitura, nossa programação, parece ser época de chuvas...:(
Um forte abraço!
Neca

sexta-feira, maio 31, 2013 12:11:00 AM  
Blogger Unknown said...

obrigada pelo post, mto informativo, vou amanha pra la.

terça-feira, abril 15, 2014 4:50:00 PM  
Anonymous Clara Faleiro - Cuiabá said...

Olá Júlio!
Este seu post é um clássico. Já li e reli inúmeras vezes nos últimos anos e encaminhei o link para diversos amigos. Conheci Chapada das Mesas há mais de 30 anos.Eu tinha 14 na época. Era tudo rústico, sem trilhas e zero de estrutura. Mesmo assim me apaixonei pelo lugar. Voltei lá em 2012 e em 2013. Fiz todo o roteiro sugerido em seu blog, inclusive o topo da igreja. E ri muito quando tomei o guaraná Jesus. Realmente é um sabor muito estranho, mas há uma força misteriosa que nos fazem tomar até o último gole. Abraços.

sábado, setembro 13, 2014 1:37:00 PM  

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