sexta-feira, maio 22, 2009

San Francisco, a cidade rock & roll

Juro que vi a seguinte cena, em San Francisco:
Estava eu lá tomando o meu café da manhã numa cafeteria, quando um homem com aparência de sem-teto se aproximou de um outro tipo classe média, meia idade, que, assim como eu, estava no balcão.
Os dois passaram a conversar. O sem-teto - cabeludo, forte e beirando os sessenta - contou que havia sido segurança do Tom Pete & The Heartbreakers, no início da carreira. Havia sido demitido por causa de um incidente, em que espancou um jovem. Estava bêbado. E foi justamente por causa da bebida que havia ido parar nas ruas.
O homem de meia idade, respondeu sorrindo que "sim, acho que eu estava nesse show com uma namorada. Me lembro da confusão. Foi no Winterland, em 1974, não foi?"
Os dois passaram a conversar. "Minha banda preferida é a The Rolling Stones, cara.", dizia o sem-teto.
"Eu gostava mais do Lynyrd Skynird, cara. Você se lembra daquela música..."
Enquanto tal cena se desenrolava na minha frente, eu pensava: Caraca, só mesmo em San Francisco isso é possível. No Rio, dois desconhecidos podem discutir futebol no balcão de um boteco. Mas em Frisco, discute-se rock.
Londres teve um papel importante na história roqueira (beatlemania, swing london, punk, new wave, cena eletrônica). Nova Iorque também (foi onde o movimento de contra-cultura surgiu, assim como o punk). Los Angeles e até mesmo Berlim também tiveram sua importância.
Mas em nenhuma delas, o rock parece fazer tanto parte do cotidiano.
Vocês sabem que sou roqueiro de carteirinha. Pertenço a uma geração que acreditou que o ritimo popularizado por Elvis pudesse mudar o mundo.
Por isso, sempre sonhei em visitar San Francisco para conhecer certos locais famosos nos anos 50,60 e 70.
E até encontrei alguns deles...

No número 1805 do Geary Blv, esquina com Filmore St, ainda está o Filmore Auditorium. Templo do rock na fase psicodélica, o Fil era de propriedade do surtado Bill Graham, que na verdade, chegou a fechar o local e o reabriu no início da South Van Ess, não muito distante deste. Mas, para minha surpresa, em 1994, o lugar foi reaberto e continua operante até hoje, fornecendo rock de boa qualidade para a garotada.

Nos 60´s os artistas eram promovidos através de posters com em estilo psicodélicos, como esse aí em cima, anunciando o veternano Chuck Berry.

O Filmore era o club da hora na San Francisco de meados dos anos sessenta. Foi lá que muita gente boa começou a se profissionalizar na música. Janis Joplin, Jefferson Airplane e Carlos Santana, só para citar alguns. Era lá que os tarjas-pretas do Grateful Dead chegavam a promover seus concertos de oito ou nove horas de duração - como as raves de hoje em dia - e que ser viam de trilha sonora para as viagens da platéia ligérgica. É, sem dúvidas, um templo.

O Avalon Ballroom, outro templo e principal rival do Filmore, na fase em que, devido ao boom hippie e psicodélico, San Francisco era o centro do universo, não existe mais. Funcionava no 1218 da Sutter Street, em Nob Hill. Seu proprietário, o lendário Chet helms, o fechou em novembro de 1968. Hoje no local, funciona, no prédio cinzento da foto acima, uma empresa de transporte.

O Winterland, que foi palco de shows memoráveis, como o de despedida da The Band, em 30/12/76, que originou o disco e documetário The Last Waltz, hoje virou esse condomínio classe média, bem brega.
Em conpensação, o San Francisco Arena, onde Peter Frampton gravou, em janeiro de 1976, seu milionário Frampton Comes Alive, ainda sobrevive.

Outra guerreira é a Livraria City Lights, no 261 da Columbus, bem no Financial District. Inaugurada em 1953 por dois amigos beatkins, Lawrence Ferlinghetti e Peter Martin, virou templo daquela geração pré-hippie. E dá uma tremenda sensação entrar e passear pelas mesmas estantes, onde gente como Kerouac e Alan Ginsberg andou futucando. Movimento Beat? Não tem a menor idéia do que estou falando? Mergulhe aqui.

Já a Six Galery, onde Ginsberg leu, em 1958, o seu lendário poema Uivo, no comecinho da Filmore, já não existe mais. No local hoje, está um bar moderninho.

Sei que as duas não têm muito a ver com o rock, já que os beatkins detestavam rock. Mas têm muito a ver com o espírito de San Francisco.

E como falar em Frisco, sem mencionar a esquina mais famosa dos anos 60? Haight e Ashbury eram duas ruas cheias de casarões em estilo vitoriano, velhos e até mesmo abandonados. E foi para lá que toda uma juventude (foto acima) de classe méida, que acreditava na possibilidade de se criar uma forma de vida alternativa, rumou, pois os aluguéis eram muito baratos.

Os casarões em estilo vitoriano ainda predominam na área, mas não estão mais acabados e, muito menos, abandonados. Seus ocupantes são pessoas da classe média alta e comerciantes que investem no mercado alternativo, da comida ás roupas. Havia muito mais casas deste tipo. A maioria foi destruída pelo terremoto de 1906, que levou mais de 3 mil vidas na cidade e também pela reforma sofrida na área, na virada da década de 60 para 70, quando o fim do sonho da era Paz & Amor, havia transformado o local num antro de violência e criminalidade.
O estilo original de vida, que sempre foi uma marca registrada da cidade, pode ser visto aqui...

...ali...

...e acolá (a foto acima é de uma inscrição na porta de um sanitário da área).
Mas dos anos 60, só mesmo essa Janis solitária, neste cartaz, na vitrine de uma loja. Aliás, Janis foi moradora da comunidade de Haight-Ashbury, no início da carreira, antes de incorporar Pearl. O quê? Não sabe quem foi Janis Joplin? Pearl? Não sabe do que eu estou falando? Então, você precisa ler Ela não fazia ioga.

No fim da Haight Street, fica o maior símbolo dos loucos anos 60, na cidade. O belíssimo Golden Gate Park, palco de grandes eventos psicodélicos, envolvendo música, religião oriental, teatro, poesia e drogas...
...aquilo que os hippies chamavam de happening.

Hoje, o Golden Gate Park é um local bucólico e tranqüilo. A maior área verde de uma cidade cheia de áreas verdes.
Em junho de 1967, durante o chamado Verão do Amor, quando San Francisco recebeu milhares de jovens de todas as partes do mundo, interessados em construir uma nova sociedade, o Golden foi palco de acontecimentos difíceis de serem esquecidos. Verão do Amor? Nunca ouviu falar disso? Mergulhe aqui.
Ao caminhar por esse parque você tem a impressão de estar num parque como outro qualquer, mas lá no fundo, beeeeeeem lá no fundo, você sente uma espécie de magia, um sentimento muito bonito de paz, que nos faz um bem enorme. Menor do que o Hyde Park, em Londres; muito menos famoso do que o Central Park e sem a exuberancia do Jardins du Tuillerie, em Paris, o Golden Gate Park é mais acolhedor do que eles todos juntos. (É altamente recomendável que se clique nas fotos para ampliá-las para que se tenha uma real dimensão da beleza do lugar)

Nenhuma cidade passa pelo que San Francisco viveu nos anos 60 sem ficar com marcas profundas e é no Golden Gate que sentimos isso mais profundamente.

Principalmente, num dia de primavera como esse.

E o Golden Gate Park termina da melhor maneira possível: no mar. Só que para aqueles que esperavam me ver em trajes de banho, numa cadeira de praia e segurando um protetor solar e também áqueles que pretendem visitar São Francisco nessa época do ano, um aviso: a primavera ali é fria (15 a 17 graus durante o dia - sensação térmica, por vezes, de quatorze, devido ao vento; oito a dez, durante a noite); ventosa (vento constante de uns 50 a 60 quilômetros horários); devido a uma corrente vinda do Alaska, a temperatura da água do mar chega aos dez graus; e apesar da água fria e traiçoeira, tubarões não são raros.
Mas sou muito macho para encarar tudo isso. Juro que estava até com a sunga. Mas quando vi essa simpática plaquinha aí embaixo...


...medei.

Cruz credo! Fui! Volto em qualquer edição extraordinária.

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4 Comments:

Blogger M. Nilza said...

hahahahaha medou muito bem!!

Seus posts são sempre uma verdadeira viagem, não só no tempo e no espaço como na mente. Muito bom!!

Quanto as diferenças culturais, não se discute, embora sempre fingimos que o Brasil seja o melhor pais do mundo pra se viver...


Beijos

sábado, maio 23, 2009 10:08:00 PM  
Anonymous DO said...

Nada como a realização de um sonho,hem JULIO. Imagino a emoção. Acabei viajando junto contigo nas fotos,rss

Otima semana!

segunda-feira, maio 25, 2009 10:24:00 AM  
Blogger Marco said...

Pô, rapaz... Está com medo de terremoto? Mais do que tubarão? Rá, rá, rá... um dia, quando o Grande Terremoto chegar, a Falha de San Andreas vai criar uma baita ilha e não vai adiantar muito ir para partes altas para fugir da tsunami...
Mas, Julio... Que viagem (no bom sentido) você nos está proporcionando! Eu sabia algumas coisas de San Francisco, mas você me contou muito mais que eu já conhecia! Puxa, valeu mesmo.
Continue aproveitando e nos mandando estes posts maravilhosos. Bom final de semana. Carpe Diem.

sexta-feira, maio 29, 2009 11:27:00 AM  
Blogger Juliana said...

Ei, amigo primeiramente parabéns pelas informações do rock q eu categoricamente n conhecia. Apesar da idade a música antiga de qualidade faz parte do meu sangue. Agora gostaria de outras informações além das que foram dadas. Eu pretendo ir pra San Francisco em Janeiro como é o clima? E tranquilo sair a noite? E tipo as fotos e os comentários do golden Gates park. Nossa uma viagem no tempo. Parabéns. aguardo contato,

jusorrisodeflor.blogspot.com

segunda-feira, agosto 31, 2009 12:06:00 PM  

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