sábado, outubro 11, 2008

Se essa rua fosse minha...

...eu mandava, eu mandava ela voltar ao passado.
Para quem tem menos de quarenta, Carnaby Street pode parecer apenas mais uma rua da capital inglesa. Mas levando-se em conta de que a mini-saia surgiu ali naquela ruazinha do Soho,
Na verdade, em meados dos anos 60, Carnaby Street era o lugar mais IN da face da terra. Era o centro do swinging London, o movimento de contra cultura inglesa. Artistas vindo de todos os pontos da Grã Bretanha, se reuniam ali, na feira que rolava em suas calçadas, onde estilistas, músicos, escritores e gente do teatro, expunham seus trabalhos ou faziam alegres propagandas dos mesmos. E os roqueiros que estavam despontando naquela época - e muita gente boa estava começando (Eric Clapton e o pessoal do Cream, o pessoal do Traffic, o pessoal do Pink Floyd, Hendrix, os Stones) - e que precisavam vestir coisas originais, costumavam aparecer por ali, para dar uma olhada nas mercadorias expostas ao ar livre. Muitas vezes, as roupas eram experimentadas ali mesmo, sem nenhum pudor. Afinal, era a época do sexo livre e tudo mais.
Uma dos estilistas que costumavam expor no local era uma tal de Mary Quant, que um dia pediu a umas amigas desfilassem pela Carnaby, uma peça que ela havia acabado de criar. Tratava-se de uma saia curtíssima, que logo virou sensação entre as garotas londrinas e, em breve, entre as meninas do mundo todo.

Quant ficou milionária e saiu da Carnaby Street. Afinal foi a fama de muitos dos seus freqüentadores, que acabou acarretando a morte da rua, como local inovador e lançador de moda, já que pouco a pouco os grandes talentos da área foram todos recrutados pelas grandes marcas e os novos talentos foram procurando outras formas para mostrar os seus trabalhos.

Hoje, as grandes marcas dominam Carnaby, como a Diesel, que aparece na foto. Lojas que você encontra em outras cidades do mundo. Aliás, a Inglaterra tem se americanizado desde os anos 90 e perdeu um pouco aquele toque de originalidade que sempre foi a sua principal característica. Isso se refere da moda à música.

Mas Londres continua sendo uma cidade única e uma caminhada no Soho à noite, lhe mostra isso. Para isso, deve-se deixar o preconceito e o conservadorismo em casa. Senta-se em um bar com cadeiras na calçada e assiste-se o maior espetáculo gratuito da terra: a comovente necessidade dos londrinos em serem modernos e originais. E conseguem. Mas, naturalmente. Boa parte dos jovens ingleses decididamente não parece o tipo que abrem o armário e pegam a primeira roupa que aparece. Nem que seja para ir ao supermercado. A preocupação com o estilo é impressionante.

Londres está bombando. Desde os anos 60 a capital inglesa não está tão em evidência, movida, principalmente pelo boom econômico, que espero que essa crise mundial não afete tanto quanto se espera. Como aconteceu entre os verões de 1964 e 1966, a cidade voltou a ser o centro das atenções. Parece que os jovens londrinos carregam nos ombros o peso de serem vanguardistas, para manter viva a tradição iniciada pela geração dos seus pais.

E aí é um festival de jeans apertadíssimos, botas em pernas compridas demais, gravatinhas, cintos estranhos, cortes de cabelos dos mais esquisitos, mocacins de exageradamente clássicos, bolsas de gosto duvidoso e etc. Mas quando eles relaxam e vestem o básico, conseguem mais modernos do que qualquer outro jovem no planeta.

Letreiros da Leiscester Square, a Times Square londrina.

E como eu ia dizendo, passar uma noite no Soho é uma experiência a qual todo ser humano deveria se permitir. Aquela multidão de boêmios, artistas, bêbados, executivos, turistas, músicos, gays, emos, freaks e criaturas indescritíveis que só se encontra em Londres, fazem do lugar um sem igual.

A região de Candem já teve seus anos de fama na época em que Londres voltou a chamar a atenção, devido ao furacão punk fazia um barulho ensurdecedor na mídia, sedenta por novidades. Punk que era punk comprava suas roupas nas barraquinhas da feira de Candem.

O movimento punk se foi e as barraquinhas e as lojinhas continuam lá. Mas a decadência não dá para ignorar. Dizer que é uma rua da Alfândega, no Rio, ou uma 25 de março, em Sampa, é sacanagem, mas não fica tão longe.

Um amontoado de barracas e lojas feias que vendem coisas de gosto e qualidade duvidável, que poderiam agradar aos punks dos anos 70. Mas hoje em dia...
Aliás, alguém poderia avisar para alguns freqüentadores que o movimento punk já acabou há três décadas. Vi muitos punks na menopauza, punks com hemorróidas, punks com arterioesclerose. Não me surpreenderia se encontrasse um punk com andador.

Aí, você pergunta: Mas onde está a tão decantada criatividade, modernidade e originalidade inglesa? Está morta?

Não de todo. Quem quiser ver o que está se fazendo de mais novo em termos de arte (música, teatro, litratura, cinema, moda e etc) vai ter pegar o metrô e rumar para bem mais ao sul. Mais precisamente para ShoreDitch, um bairro de ruas pacatas, que até bem pouco tempo atrás era uma área desprezada, habitada na maioria por imigrantes pobres.

Como aconteceu com o Soho novaiorquino, onde os aluguéis dispararam, nos anos 90, expusando os artistas iniciando para o outro lado da ponte do Brooklyn, aqui a vanguarda artística londrina veio dar aqui neste local próximo à City (o mercado financeiro), sem muita graça, mas que agora está ganhando um colorido novo, com a chegada de restaurantes bacaninhas, cafés charmosos, brechós criativos e lojinhas bonitinhas.
Não espere um novo Soho-anos 60 por aqui, mas dá pra sentir o clima iferente.


O lugar ainda não é muito freqüentado por turistas, mas os londrinos já aprenderam onde encontrar coisas originais e criativas. Principalmente na feirinha que rola no bairro nos finais de semana. O mais interessante é que o bairro ainda não cortou totalmente os laços com os seus antigos moradores imigrantes e você anda nas ruas e o que se ouve de música eletrônica indiana, paquistanesa, senegalesa, árabe ou tailandesa! Nos restaurantes, nos bares ou em barraquinhas, você encontra culinária de lugares, onde, por ignorância, você nem imaginava que ouvesse uma culinária sequer. Porra, você pensa que eles comem o que, no Paquistão? Comida francesa?



Aliás, originalidade é a marca daqui.

Uma originalidade, às vezes, um tanto estranha, diga-se de passagem.
Guarde bem este nome: Shoreditch. Você ainda ouvirá falar deste bairro que nos mostra que nem tudo está perdido e que a Londres que nós idelizamos não morreu.

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3 Comments:

Blogger Nil Borba said...

Por mais que tenhamos evolução com a modernidade , ainda sentimos saudades do que passou. Ela não voltará amigo..conforme-se..rssssss

Beijos e bom domingo

domingo, outubro 12, 2008 10:21:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ta,eu confesso,JULIO: babei de vontade de conhecer e desfrutar de tudo isto.
Valeu mesmo!!

Grande abraço!!

segunda-feira, outubro 13, 2008 8:19:00 AM  
Anonymous Rapoza HC said...

AE SEU IMBECIL O MOV PUNK AINDA NÃO MORREU NÃO, E RESISTE BEM NESTA HIPOCRITA SOCIEDADE A QUAL VOCÊ PERTENCE, ACHO QUE VC QUE VAI AACABAR DE ANDADOR OU CADEIRA DE RODAS, AFINAL VOCÊ QUEM CONSOME EM MASSA ESTA CULTURA CAPITALISTA, E NÃO ME VENHA COM PAPO DE ESTIO E MODA, POR QUE SE É MAL INFORMADO O MOV PUNK VERDADEIRO É TOTALMENTE DESLIGADO DISTO SEU IMBECIL! VÁ SE FODER!

domingo, fevereiro 07, 2010 10:45:00 AM  

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