terça-feira, fevereiro 12, 2008

As cavernas obscuras do nosso ser


"Ah, olha só a vadia! E encolhe, e solta, e mexe, e sacode e rebola. E eu, a serpente, vou saindo do cesto, maravilhada e à mercê dos seus encantos. Como o velho leão de circo que faz o seu número para ganhar a suculenta carne no final.
E o meu número é arrastar-me até este lugar sujo e mal freqüentado, para deixar-me ser enfeitiçado por ela. Deus sabe como tenho resistido todos esses anos. Não posso, não devo, dizia eu — um homem bem sucedido e chefe de uma família adorável —, enquanto o demônio (um sujeito simpático e de boa conversa) me fazia deixar o meu confortável escritório e, nesta noite de chuva, vir até a um lugar sórdido como este, na parte suja e feia da cidade, onde, só ou em bando, vive-se em apartamentos apertados ou em vagas. Um lugar de gente ansiosa e disponível, onde o calor humano é mais barato.
Olho em volta e vejo que não sou o único. O que não me serve de consolo, pois me considero especial, levando em conta de onde venho e que o grande herói da minha vida foi o xerife Anderson..."


Trecho inicial do meu conto Dança do Ventre, do meu livro Crimes e Perversões, que você pode adquirir, mergulhando aqui: juliocorrea19@gmail.com


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