domingo, fevereiro 24, 2008

Aquela praça...

Cuauhtémoque. O nome é horrível, mas assim é chamada uma pracinha que fica bem próxima aqui de casa. Como fica escondida no final da Praia do Flamengo, imprenssada entre o final da Rui Barbosa e o início da Oswaldo Cruz, só é freqüentada por moradores da região. A maioria profissionais liberais e altos funcionários públicos. A nata da classe média.
Não se vê um papel no chão. Os brinquedos funcionam perfeitamente. Não há pixações e nunca vi um morador de rua por lá.
Pelas manhãs, babás uniformiazadas tomam sol com os filhos dos patrões. À noite, a garotada vai bater-papo, escutar um som ou jogar uma bola. Nos finais de semana, não é raro ter alguém fazendo churrasco ou comemorando seu aniversário no local. Festas juninas, desfile de cães e batucadas também não são raras. Tudo na maior paz, limpeza e segurança - há uma cabine da Pm em frente e guardas municipais aparecem, de vez em quando.



Os próprios moradores cuidam dos brinquedos e da limpeza. E cobram do poder público cuidados para esse cantinho, como se ele os pertencesse. Mas na verdade, pertence. Acho que é aí que mora a diferença entre essa praça e a maioria das outras. Os freqüentadores tratam o lugar porque têm a consciência de que ele lhes pertence.

Deu certo aqui. Por que isso não acontece em outros lugares? Talvez a resposta esteja nos anos de governo militar que esse país enfrentou. Na época, o cidadão poderia ser punido por sujar um local público, por exemplo, porque estava fazendo uso inadequado de um lugar que não o pertencia. Locais públicos pertenciam ao Município, ao Estado ou à União. Esta foi a mentalidade difundida durante anos, como uma lavagem cerebral.



Sem a repressão do governo militar, as pessoas adquiriram a idéia maléfica do "foda-se, não cuido disso aqui porque não me pertence. Vou sujar, vou pisar na grama, vou pichar e vou quebrar porque não tenho nada a ver com isso."
E essa pequena e bucólica praça com nome horroroso é um ótimo exemplo do que pode acontecer quando o cidadão entende que os locadouros públicos são como uma extensão da sua casa.


A voz do povo é a voz de Deus. Devido a minha absoluta falta de tempo, não tenho mais Crimes e Perversões para vender. Mas vou preparar uma quinta edição para breve. Por favor, perdoem-me e aguardem!

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2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

"Cuauhtémoque". pô, gostei do nome. será que sou tão esquisito assim?

segunda-feira, fevereiro 25, 2008 1:26:00 PM  
Blogger Unknown said...

O nome parece de algo Inca ou Maia... bem, mas acho que você pegou a questão que interessa: será que agimos assim por causa dessa mágoa com o que é do Estado (o que significa que é de todos)? Concordo contigo. E mais. Acho que liberdade em excesso é prejudicial. Uma pena pensarmos assim, mas o coletivo não nos deixa outra opção.

Cheers!

segunda-feira, fevereiro 25, 2008 7:27:00 PM  

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