domingo, junho 03, 2007

Lobão, o fodão


Quando, em fins dos anos 90, este cidadão, com pinta de alquém com quem não gostaríamos de ficar às sós num elevador no meio da madrugada, anunciou que iria lançar seus discos por uma gravadora independente e vendê-los em bancas de jornais, ninguém se espantou. Afinal de contas o cidadão era Lobão, uma das figuras mais polêmicas da nossa música. Mas não é que o cara brigou com sua gravadora, a Sony, e passou expor seus trabalhos ao lado de gibis e as Revistas Caras da vida? E se deu bem. O seu primeiro trabalho a ser lançado neste esquema, o cd A VidaÉ Doce, vendeu quase cem mil cópias. E o sujeito ainda fez escola. Outros astros da MPB passsaram a ser independentes. Na inglaterra, grupos como o recém-falecido New Order, ficaram décadas à margem das grandes gravadoras, mas aqui era uma coisa ainda inédita um artista vender bem sem o apoio das grandes. E Lobão virou herói.
Quase dez anos depois, no final do ano passado, eis que Lobão anunciou ter feito as pazes com sua antiga gravadora e que lançaria por ela seu próximo trabalho. Mais uma vez o cara surpreendeu a todos e como era de se esperar, os gritos de "vira-casaca!" não foram poucos.
A esses, o roqueiro respondeu em recente entrevista:
"Fiz a indústria cair de joelhos e tentaram me destruir. Com essa trajetória, como podem dizer que sou uma Madalena arrependida?"
O trabalho em questão foi o cd gravado ao vivo no progarama Acústico da MTV, em abril último. E novamente o sujeito surprendeu com um trabalho de altíssima qualidade. Antigos sucessos com novas roupagenes e os novos com arranjos arrasadoramente inspirados. Ouso dizer que é o melhor cd que ouvi neste ano, até agora. Os críticos também gostaram e o público ídem.
O que este rapaz de 49 anos vai aprontar agora?
Mas enquanto espero, me pergunto se ser alternativo é uma opção ou uma exclusão? Será que o desejo de todo artista, mesmo que secreto, é pertencer ao main stream?
Eu escrevo e publico meus humildes livrinhos por conta própria. Se eu gostaria de ser contratado por uma grande editora a resposta é SIM. Mas agora posso dizer: "Veja o exemplo do Lobão. Conseguiu dobrar as grandes apenas com o seu talento e fazendo um trabalho de qualidade."
E essa acho que é a maior lição que o cara pode dar ao mercado e a todos que estão tentando um lugar ao sol no tão complexo meio artístico brasileiro. Como eu.
Embora, das profundezas da minha consciência, ouço uma voz sombria me dizer: "Mas o Lobão é fodão. Você, não."

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