quinta-feira, setembro 14, 2006

E lá se vão 15 anos desde que o rock saiu da UTI e foi para o quarto particular com acompanhante


O punk rock sempre foi tão antipatizado pelos americanos, mas tão antipatizado, que ainda tem muita gente que pensa que o gênero é uma criação britânica. Na verdade, os ingleses descobriram esse odiado estilo de rock no CBGBs, uma espeluncas que atraía a escória do rock novaiorquino em meados dos anos 70, e o importou.
O punk estourou na Inglaterra, depois acabou, enquanto nos EUA, ele continuava a ser música restrita a espeluncas. Então, vieram os anos 80 com sua new wave, seu rap, seu british pop, seu hip hop e sua música eletrônica. E aí aconteceu uma coisa fantástica: o punk havia sido extinto no Reino Unido, mas, por um motivo difícil de ser explicado, continuava a ser feito na terra do Tio Sam, mesmo que ainda apenas em espeluncas. O outro dado fantástico era que havia surgido um reduto de punk rock no local menos provável: a ensolarada e alegre Califórnia. De repente, bandas como a Generation X, por exemplo, continuavam a cantar o tédio de se morar num lugar lindo, mas cercado de futilidade e falta de perspectivas por todos os lados. A receita era a mesma, poucos acordes e muito barulho. Mas o punk Californiano era mais bem humorado do que o britânico e não tão experimentalista como o novaiorquino. Sem querer, a garotada da Califórinia, que pegava onda durante o dia e fazia um barulho à noite, havia criado o tipo ideal de punk para os americanos. Punk mais lite, mais dançante, mais debochado e satírico. Deu certo e no final da década, já havia centenas de bandas nos arredores de Los Angeles. Gente como o Black Flag, Jane´s Addiction, Butt Hole Surfers e uns tais de Red Hot Chilly Peppers, que chegariam ao maninstream mais tarde.
De olho na repercurssão que as bandas californianas estavam tendo, roqueiros de outro ponto da costa oeste, que também estavam na estrada já há algum tempo, começaram a fazer um som mais melódico, envolvente, sofisticado e com mais variações, embora com a mesma garra e explosão do punk. Era o que se precisava para que esse subderivado do ritmo que havia nascido em espeluncas novaiorquinas, conseguisse finalmente chegar às paradas.
Foi apelidado de grunge e era assinado por uma garotada que tocava em locais alternativos de Seattle. Eram cabeludos que usavam roupas esportes amarrotadas, muitas superposições e estavam sempre com cara de sono. Gente como Sound Garden, Pearl Jam, Alice in Chains e Screaming Trees. Mas como todo movimento tem um líder, o grunge elegeu o seu quando o cd Nevermind, do Nirvana foi lançado, no segundo semestre de 1991.
A primeira canção deste disco a virar hit foi Smells Like Teen Spirit, que virou hino e resume o pensamento daquela garotada que queria tirar o rock da UTI e levá-lo para o quarto particular com acompanhante, com um som rebelde, mas bem humorado, cínico, criativo e ousado. Novo? Não. Na verdade o grunge era um mix de influências que iam desde The Doors e Neil Young a Jimi Hendrix e, logicamente, punk, é claro.
Quase que imediatamente, na maioria das grandes e médias cidades americanas, bandas alternativas eram formadas, como as meninas do L7, de Los Angeles, o Smashing Pumpkins, de Chicago, ou o Stone Temple Pilots, de San Diego. Na verdade, de uma hora para a outra houve um boom alternativo de arte que não acontecia desde os anos 60. De uma hora para a outra, ser alternativo deixava de ser exótico para ser chique. Era só dar uma circulada na noite e ver meninos e meninas com roupas desgrenhadas, cabelos coloridos, tatuagens espalhadas pelo corpo, assim como piercings também.
Percebendo o que estava acontecendo ao seu redor, o tresloucado vocalista e líder da banda Jane´s Adiction, Perry Farrell, criou um festival totalmente dedicado a tudo que se fazia de arte alternativa. E mais, o festival rodaria pelo país, divulgando o trabalho de quem não estava ainda no mainstream. Uma excelente idéia que teve início no verão de 1991 e duraria até 1997. Seria reeditado em 2003, foi cancelado em 2004 e voltou no ano seguinte. Mas as coisas haviam mudado.
Por falta de novidade, a mídia e o mercado de disco começaram a correr atrás de bandas alternativas para transformá-las em Cinderelas. Foi assim com o Porno For Pyros, foi assim com os Smashing Pumpkins e com toda a galera de Seattle. De repente, o movimento que teve como sua principal característica, ser uma alternativa para o rock comprado do mainstream, foi engolido pelo sistema como o punk havia sido, ao virar new wave. Inevitavelmente surgiram os falsos grunges na pele de bandas como o Creed e Collective Soul. Botiques caras e costureiros famosos começaram a lançar coleções inspiradas na maneira grunge de se vestir. Tudo virou comércio. E o suicídio de Kurt Cobain, em 7 de abril de 1994, foi o tiro de misericórdia.
Restou a amarga impressão de que não havia mais remédio que pudesse curar o rock. E ele voltou para a UTI.
Mas devo um obrigado àqueles cabeludos. Pelo menos eles tentaram.

Convite...

O GRUPO AUTORES EM CENA
CONVIDA VOCÊ PARA A
LEITURA DRAMÁTICA DA PEÇA

“A MANCHA - COM NELSON, EM FAMÍLIA”
DE ANNA MARIA RIBEIRO


DIREÇÃO DE TOMIL GONÇALVES
DIREÇÃO MUSICAL E SOM DE LUIS EDUARDO MONTEIRO

EM CENA OS ATORES:
ALEXANDRE BORDALLO
FERNANDA AZEVEDO
GIL HERNADEZ
JANAÍNA NOËL
MARCUS TOLEDO
PATRÍCIA COSTA

DIA 21 DE SETEMBRO ÁS 21:30
ESPAÇO CAFÉ CULTURAL
Rua São Clemente, 409 – Botafogo
Entrada grátis – Estacionamento em frente


AVISO IMPORTANTE: Irei tirar meus quinze dias de férias que faltavam e, com dizia o Herbert Vianna naquela música, vou "ficar fora uns dias numa ronda diferente". Mas não se iludam. Quando voltar, a balaceira vai comer de novo. É uma ameaça!
Fiquem com Deus e comportem-se!

Beijos e abraços!

23 Comments:

Blogger Milton T said...

Julio não conheço muito a história, mas curto "Pets" do Porno for Pyros!
Bom domingo
Abçs

domingo, setembro 10, 2006 1:13:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Milton,
foi o último momento interessante na história do rock
gd ab e ot semana

domingo, setembro 10, 2006 1:15:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

amiga nunca gostei desse negocio punk...quanto as ferias..seja feliz e aproveite..ate la.

domingo, setembro 10, 2006 1:16:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Cilene, tirando o "amiga", tá tudo certo. hahahahahahah
bj

domingo, setembro 10, 2006 7:12:00 PM  
Blogger Vera F. said...

Júlio, vc já foi critico de música? Vc faz umas análises tão bacanas e bem interessantes. Acho que vc tem futuro...
Desses que vc falou gosto do Pearl Jam e do Red Hot Chilli Peppers que continuam na batalha.
Kurt Cobain tinha a alma atormentada, essa deprê não curto muito não. Mas gosto de algumas músicas deles(Nirvana).
Boas férias.
Bjos.
Bjos.

domingo, setembro 10, 2006 7:38:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

"último momento interessante na história do rock"?? Po renegou tudo que veio depois? alternativo, indie, college, etc??? Coééé

segunda-feira, setembro 11, 2006 4:54:00 AM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Vera,
sou apenas metido à besta ou um crítico frustrado.
Até a volta
bjs

Henrique,
Não desprezei não. Apenas o grunge pela unidade, ousadia, força e número de adeptos, pode ser considerado um movimento musical. O que vc citou são apenas estilos. Estilos seguidos por muita gente boa.
gd ab

segunda-feira, setembro 11, 2006 5:17:00 AM  
Blogger Jorge Ferreira said...

Valeu pela forca Julio!...as nuvens negras ainda pairam...mas a musica segue tocando...grande abraco e continue aparecendo!

segunda-feira, setembro 11, 2006 12:19:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Milton,
valeu e até a volta.
gd ab

segunda-feira, setembro 11, 2006 4:52:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Jorge,
força!
gd ab

segunda-feira, setembro 11, 2006 4:52:00 PM  
Blogger Luma Rosa said...

Texto perfeito, só esqueceu de citar Mudhoney! (rs*)
Boa viagem!! Beijus

terça-feira, setembro 12, 2006 12:12:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Júlio, beleza esse texto. Acrescenta aqui o comment do Henrique e pronto!! Comentatus est!!

Boas férias!! curta bastante!

Beijos

terça-feira, setembro 12, 2006 2:59:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Luma,
foram tantos!
Até a volta
bjus

Bruna,
valeu. Vou add
bjs

terça-feira, setembro 12, 2006 4:02:00 PM  
Blogger Jôka P. said...

I know, its only rock´n roll...
But I like it !
:)
Yes I do !

quarta-feira, setembro 13, 2006 10:02:00 AM  
Blogger Leleco said...

Júlio,

Sinceramente, não curto Punk Rock, mas não há como negar que o Nirvana teve seu lugar na história.

Gosto mais do estilo de bandas de Hard Rock, como Kiss, Bon Jovi, Whitesnake, Heart, Queen, Journey, entre outros.

Um abraço,
Leleco

quarta-feira, setembro 13, 2006 10:13:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Boas férias e bom descanso, Julio!
Até breve!

quarta-feira, setembro 13, 2006 1:10:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Aproveite bem as ferias,JULIO. Descanse,divirta-se...que é o que realmente vale,heheheh
Qualquer diz vc me conta porquê este charme de colocar um post com data fuura.
Dá um nó no meu cérebro que vc não imagina,hehehe
Abração!

quarta-feira, setembro 13, 2006 1:55:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Aproveite suas férias, meu bom!!!!

beijocas

MM

Ps: se eu estiver aqui no Rio no dia 21 vou com certeza ;o)

quarta-feira, setembro 13, 2006 3:41:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Buenas.
Júlio, peguei o grunge do início ao fim.
Pode acreditar: teu texto me fez relembrar a melhor fase da minha vida. =)
Grande abraço do amigo distante.

quinta-feira, setembro 14, 2006 11:46:00 AM  
Blogger Jéssica said...

Embora curta bastante e tenho vários deles na minha máquina, sou ruim pra guardar nomes. Boas férias e volte renovado pra continuar nos brindando... Beijo*.*

sexta-feira, setembro 15, 2006 1:14:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Estou aqui convidando vc pra participar de um concurso, com premiação, que estou realizando no meu blog. Entre e confira!
Abraços!
Rubo Medina
http://napontadolapis.zip.net

sábado, setembro 16, 2006 6:11:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Estou aqui convidando vc pra participar de um concurso, com premiação, que estou realizando no meu blog. Entre e confira!
Abraços!
Rubo Medina
http://napontadolapis.zip.net

sábado, setembro 16, 2006 6:11:00 PM  
Blogger Ane Brasil said...

Aff, bons tempos aqueles anos 90... baldas no Bom fim regadas a miuta cachaça do bar joão ouvindo Nirvana.
Na época eu torci um pouco o nariz pros caras, porque virou modinha...
Tinha até uma piadinha: eu não medito pra chegar ao Nirvana, eu medito pra chegar no Led, que é muito mais banda!
No entanto, a 'última onda rockeira' ficou por conta dos guri de Seattle.
Aí, me junto a ti no agradecimento!

terça-feira, setembro 26, 2006 10:47:00 AM  

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