segunda-feira, junho 12, 2006

Maior Bode, bicho!!!



As coisas estão estranhas no mundo que tem até hippie enfrentando crise financeira.

Pelo menos é o que estão reclamando o pessoal da comunidade de Twin Oaks, que há 38 anos existe na cidade do mesmo nome, no estado norte-americano da Virginia. Os hippies dali viviam fundamentalmente da venda do que produziam. E eles produziam rede e tofu. Viviam felizes numa fazenda de 1.824 metros quadrados, achando que o sonho não havia acabado. Mas quando o seu maior cliente, a Píer One Imports, anunciou que deixaria de comprar seus produtos, os ripongas da terceira idade entraram na maior bad trip, bicho!
Segundo a revista Fortune, o faturamento deles despencou de US$ 2 milhoes em 2002 para US$ 1,1 no ano passado. Parece pouco, mas tem que se levar em conta os gastos cada vez maiores devido aos aumentos nos preços da gasolina e com despesas médicas, já que há muito esses ripongas trocaram o LSD e o chá de cogumelo por Lexotan e outras drogas mais caretas.
A primeira comunidade hippie a se tornar famosa foi a de Haight-Ashbury, localizada no quarteirão entre essas duas ruas, próximas à zona portuária de São Francisco. Por volta de 1965, a área era decadente e os aluguéis dos enormes casarões em estilo vitoriano eram tão baratos, que passaram a atrair uma legião de jovens artistas que queriam experimentar ácido e a possibilidade de vida alternativa, rompendo todos os laços com a sociedade vigente.
No início, vistos como excêntricos jovens cabeludos e drogados que usavam roupas estranhas, os hippies foram sendo aceitos pelos moradores da cidade e até a prefeitura não se incomodou quando eles passaram a desenhar imensos painéis psicodélicos nas frentes das casas, onde os degraus eram verdadeiras assembléias legislativas. Entre um baseado e outro, discutia-se desde como se entoar um mantra até medidas para melhorar a comunidade.
Sim, eles eram uma comunidade. Viviam do que produziam (música, poesia, artesanato, pintura, moda, literatura, etc) e tinham suas prórprias leis. Eram pacíficos e criaram até um esquema especial de distribuição de drogas. Alguém ia lá fora buscar, para impedir que grandes traficantes e marginais perigosos entrassem na comunidade. Com isso, os registros policiais eram raros e a própria polícia fechava os olhos quando sentia o doce cheiro de mato queimando na área.
Haight-Ashbury conseguiu ser uma ilha de tranqüilidade no meio da selva da grande cidade durante uns dois anos. Até que alguém (sempre tem alguém) ambicioso quis aumentar as proporções das coisas e propôs uma maior divulgação da filosofia de vida do lugar. Na verdade, a comunidade já vinha atraindo jovens aventureiros, na maioria, rebeldes-sem-causa da classe média, fascinados com a possibilidade de viver longe e sem a mesada dos pais e ainda ter a chance de esbarrar em gente como Janis Joplin, dividir um baseado com Jerry Garcia (dos Graeteful Dead) e ter Grace Slick (dos Jefferson Airplane) batendo na sua porta à noite para pedir meia dúzia de ovos pra fazer uma gemada. Hoje em dia seria mais fácil com a internet. Mas para promover o movimento que crescia, os hippies anunciaram um grande happening no Golden Gate Park, em janeiro de 1967. Eram esperados uns 200 e apareceram mais de 2 mil ripongas. Durante todo o dia, houve palestras, danças, shows e muitas viagens lisérgicas. Quem foi, conta que era tanto baseado queimado, que formou-se um fog em volta do parque.
Os ripongas, entusiasmados com o sucesso do evento, decidiram promover algo ainda maior. Seria uma semana de shows, palestras, workshops, manifestações e happenings. A doideira recebeu o nome sugestivo de Verão do Amor, aconteceria na segunda semana de junho do mesmo ano e seria fechada com um grande festival de rock no antigo autódromo de Monterrey. Os líderes apareceram na tv convidando a todos que estivessem interessados em iniciar uma vida alternativa a irem celebrar com eles em São Francisco. Quase que imediatamente jovens cabeludos com mochilas nas costas, vindos de todas as partes do mundo começaram a chegar, enquanto músicas em louvor à tal celebração subiam nas paradas (San Francisco do Scott Mackienzie é a mais famosa) e até a revista Time publicava um reportagem de capa sobre o que estava acontecendo na costa oeste.
Os líderes – entre eles o poeta Allen Ginsberg – comemoraram o sucesso. Mal sabiam que seriam vítimas da própria inocência. Isso porque entre aqueles milhares de jovens que chegavam, havia desordeiros, procurados pela justiça, marginais e desajustados de todos os gêneros. Quando aquele Verão do Amor terminou, Haight-Ashbury passou a ser um local perigoso com assaltos, estupros, latrocínios e furtos ocorrendo aos montes. Os traficantes perigosos passaram a dar as caras e a polícia não fechou mais os olhos. Incidentes, prisões, brigas, casos de overdoses e tumultos passaram a ser freqüentes. Era o início do fim do sonho, até Haight-Ashbury ser parcialmente demolida pela prefeitura em 1973.
Horrorizados, os primeiros ripongas que haviam chegado na comunidade começaram a dar no pé. Muitos foram para o campo e formaram comunidades rurais, na tentativa de levar às últimas conseqüências a experiência de se criar uma sociedade alternativa. No inicio, eram pequenos núcleos na região montanhosa da Califórnia. Depois, as comunidades rurais passaram a se espalhar por todos os EUA. Twin Oaks foi uma delas, comprada por meros US$ 26.500 em 1967.
Aqui no Brasil também existiram várias comunidades do tipo nos anos 70, em locais como Arembepe (Bahia), Lumiar e Paraty (Rio), Ouro Preto (Minas), Canoa Quebrada (Ceará) e Sete Cidades (Piauí). Em 1972, Zé Rodrix declarava, através da voz da Elis: “Eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor muitos rocks rurais...” Ainda hoje você encontra sobreviventes daqueles tempos em alguns desses lugares. Em Penedo, no sul do estado do Rio, por exemplo, ex-hippies transformaram suas antigas casas em pousadas confortáveis que cobram diárias exorbitantes.
Seja como for, me comoveu ler a matéria do O Globo sobre esses sobreviventes que passaram por todos os percalços vividos pela sua geração e foram encontrar o fim do sonho logo agora no fim da vida.


Para Anotar na Agenda


Não poderei estar lá. Estarei em Belô, comendo pão de queijo, se Deus quiser. Mas não deixem de ir. Falar sobre Sabino sempre rende um bom papo.

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Frequento o Sana[distrito de Casimiro de Abreu]do ladinho de Lumiar,ainda hoje tentam construir uma sociedade alternativa,não tão poética bem verdade,nem tão inocente, mas com louvor a vida natural onde se plantando tudo dá e ao som do Reggae tudo é possível.
Não fui hippie mas comunguei de seus ideais e gostaria de clamar como Rauzito:"Viva!Viva!Viva a Sociedade Alternativa..."
Gostei de saber como tudo começou.
Lindo findi,
beijosssssssssss

sexta-feira, junho 16, 2006 10:38:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Pois é, Clarinha. Já tive a minha fase riponga nos anso 70. A filosofia hippie é linda, mas impraticável nos dias de hoje. Mesmo assim ainda sigo dois dos seus preceitos: o amor a natureza e o respeito ao próximo.
bjs

sexta-feira, junho 16, 2006 10:47:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Post interessante. Era uma geração idealista.

sábado, junho 17, 2006 12:14:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

eu? sei nao? oh mundo desviado

sábado, junho 17, 2006 3:33:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Pois é,JULIO,a crise pega todo mundo e não escolhe hora ,nem lugar.
E disto eu tenho absoluta convicção,hehehe
Otimo final de semana a vc
Abração!

sábado, junho 17, 2006 8:23:00 AM  
Blogger Luma Rosa said...

Lembro de uma época que apareciam na minha cidade hippies vindos da Bolívia, Brasília, São Tomé das Letras e de alguns lugares exóticos e energizados. Gostava de suas roupas confortáveis e dos trabalhos artesanais. De resto lembro de um hippie que sumiu com uma macacita que confiei um trabalho. Em todas as classes existem pessoas boas e ruins. No Brasil existem os falsos hippies, aqueles que adotam o estilo mas não fazem voto de "pobreza". Quando digo pobreza, é desapego à bens materiais.
Também tenho dó dos nossos aposentados.
Beijus

sábado, junho 17, 2006 6:34:00 PM  
Blogger Vera F. said...

Passando só para dar um alô , volto depois que o marido for embora para comentar sobre o post.

Bjos.

domingo, junho 18, 2006 3:11:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Se os hippies de lá estão passando por essa crise, imagine os nossos...
Estará em Belô? Comendo pão-de-queijo? Vou mandar o Pimentel (o prefeito) entregar as chaves da cidade pra você. Ou prefere só as chaves da Savassi?
Seja bem-vindo a BH, Júlio.
Rubo Jünger Medina
http://napontadolapis.zip.net

domingo, junho 18, 2006 11:33:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Entraçado, pq meu comentário saiu assim anteriormente?

domingo, junho 18, 2006 11:35:00 PM  

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