terça-feira, janeiro 24, 2006

A História de Um Garoto de Ouro



Há exatamente 30 anos um rapaz louro, com pinta de surfista virava notícia. O guitarrista inglês Peter Frampton - ex-Humble Pie e ex-Camel - lançava o seu álbum duplo Frampton Comes Alive e mudava a cara do mercado da música.
Lançado em janeiro, este disco, gravado ao vivo num estádio em São Francisco, foi subindo pouco a pouco na parada e, como quem não quer nada, terminaria aquele ano com mais de 16 milhões de cópias vendidas. Roubou o recorde que pertencia a um outro álbum sobre o qual falei dias atrás neste blog, o Tapestry, da Carole King, lançado em janeiro de 1971 (ver o post Com Trilha Sonora, de 06/01/06). Os tempos haviam mudado. A juventude americana já havia deixado a tristeza do início da década de lado e estava querendo mais era curtir. E “O Garoto Dourado dos Anos 70”, como Frampton passou a ser vendido pela mídia - e aceitou -, era o artista perfeito para uma geração cansada de se fazer de vítima da desilusão com os anos 60 e que queria mais era um som alegre, alto astral e que lembrasse uma tarde de sol na praia.
Eu, na época, era um moleque de 16 anos, que pegava ondas e andava de skate, enquanto terminava o ginásio no Colégio Pedro Segundo. Comprei o disco com o dinheiro da mesada e gostei. Embora não tenha nada de extraordinário, trata-se de um bom álbum, onde a guitarra de Frampton está inspirada e a pegada geral era de um bom rock.
Com o mega-sucesso do Frampton Comes Alive, a indústria do disco passou a correr atrás de um novo Frampton. Na verdade, as gravadoras perceberam que podiam ganhar mais grana do que imaginavam e passaram a investir pesado na construção de ídolos. O negócio já existia, mas passou a ficar mais pesado. Os concertos em estádios passaram a ser a regra. Antes, a maioria dos artistas tocavam em teatros ou, no máximo, em ginásios. Enfim, a ficha caiu e a ganância, por um bom tempo, passou a vencer a criatividade. Por isso, considero Frampton Comes Alive um divisor de águas no mundo do rock.
Mas a história do “Garoto de Ouro” não teve um final feliz. Frampton ainda conseguiu um hit no ano seguinte, a balada I´m in You, desaconselhável para quem tem uma alta taxa de glicose. Também participou na ridícula versão cinematográfica do Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles (Bee Gees com aquelas fardas dos anos 60, ninguém merece) e ainda quase morreu em um acidente de carro. No final de 1977, a trilha sonora do filme Embalos de Sábado À Noite, roubou o recorde de Frampton, e o manteria até o Thriller, do Michael Jackson. Nos anos 80, Frampton voltou a gravar e tocou sua guitarra no trabalho de outros astros. Mas nunca mais conseguiu chegar nem perto do sucesso conseguido em 1976.
Quem mandou se vender?


"Ahgrrrrr! Como fui burro por não ter conseguido o meu A Arte de Odiar!!"
Tudo bem. Errar é humano.
Mas, se você perder a próxima edição que já está no forno, merece comer toda a grama do Aterro.

6 Comments:

Blogger Jôka P. said...

JULIO,
sabia que quando eu tinha uns 18 anos todo mundo achava que eu era o clone do Peter Framptom ?! Cabelo igual e tudo !

Muita pretensão e água benta pra mim, né ?
ABÇS !
:D
JÔKA P.

quarta-feira, janeiro 25, 2006 10:05:00 AM  
Blogger pecus bilis said...

Esse título, "A arte de odiar", por acaso é influenciado por Schopenhauer?

quarta-feira, janeiro 25, 2006 12:16:00 PM  
Blogger Alba Regina said...

JC! Cara, vc e os discos da minha vida!!! Noooossa eu ouvia frampton comes alive o dia inteiro...e, há algum tempo atrás minha prima trouxe o cd pra mim dos eua. fiquei super feliz! Amei!!! Fui atingida! Beijo grande.

quarta-feira, janeiro 25, 2006 4:55:00 PM  
Blogger Alba Regina said...

Ah! assisti a um show dele no maracananzinho ( tá certo?!) foi mais ou menos, mas era Frampton! Beijo.

quarta-feira, janeiro 25, 2006 4:57:00 PM  
Blogger Luma Rosa said...

Não entendi, ele se vendeu porque??
Será que ele é aquele das propagandas da marca Hollywood?
Julio, estou te localizando. Tem a idade da minha irmã!
Beijus

quarta-feira, janeiro 25, 2006 5:25:00 PM  
Blogger Julio Cesar Corrêa said...

Jôka,
"O Garoto de Ouro de Copacabana". naquela época todos queriam ser Frampton.Se vc se parecia com ele naturalmente, sorte a sua.
gd ab


Pecus,
o título foi inspirado na minha experiência de vida. Infelizmente tive a falta de sorte de conhecer uma pessoa quera mestre na arte de odiar.
gd ab

Alba,
enquanto fazia este post, eu ouvia o Frampton Comes Alive e percebi o quanto ele era um bom trabalho e significativo para milhões de jovens em todo mundo.
bjs

Luma,
Não seiquanto anos sua ir´mã tem, mas o Frampton se vendeu sim. Os tempos eram outros. Mais tarde, artistas como a Madonna fariam pior, mas naquela época, a super exposição era fatal. Ele podia se contentar com o seu talento e vender uns 2 milhões de cópias, mas permitiu que sua imagem fosse excessivamente usada e supervalorizada. Chegou um ponto que ninguém aturava mais PF. As rádios o tocavam sem parar, recebiam o famoso jabá para isso. Ele vivia aparendo na tv, era capa de todas as revistas, pousava de galã. Hoje, com a web, fico imaginando o que ele não faria. Isso não só desgastou a imagem de um guitarrista realmente talentoso, mas também fez com que se criasse uma expectativa enorme em torno dele. A mídia fazia questão de vendê-lo como alguém que ele estava, na verdade, muito aquém de ser. Pagou um preço por isso. Seu álbum seguinte, não vendeu nem 5 milhões de cópias, nem ao menos conseguiu chegar em primeiro lugar. Recentemente, numa entrevista à tv americana ele disse que se sentia arrependido de ter caído na cilada armada pelas gravadoras. Enfim, restou esse bom trabalho. Ah, eu tenho 46 anos.
bjus

quarta-feira, janeiro 25, 2006 9:11:00 PM  

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